Danilo Arial
Mariane Belasco
Por volta das 22 horas eles começam a se reunir no centro da cidade. Um grupo que já foi de cinco garotos, hoje conta apenas com três. Um não concedeu entrevista, enquanto os outros estão internados, um na Febem e outro numa clínica de recuperação para dependentes químicos.
Eles têm entre 12 e 16 anos, possuem moradia fixa, família e boa aparência, mas escolheram ganhar a vida como profissionais do sexo, fazendo programas apenas com homens, na maioria das vezes, casados. Garantem que se previnem e sempre usam preservativos. O que parece ser um enredo das grandes capitais, atualmente, ocorre nas praças públicas da cidade.
Ao ar livre, eles bebem, se prostituem e fazem uso de drogas, sem nenhum receio. Abandonaram a escola pelo preconceito que sofreram dos colegas e até de educadores. Um deles foi expulso após uma agressão contra uma professora, que fez alusão quanto à sua sexualidade. Os dois interromperam seus estudos na quinta série do Ensino Fundamental e estudavam em escolas diferentes.
Em entrevista, os menores esclarecem o que acontece nas ruas durante as madrugadas. Os nomes são fictícios e serão usados apenas iniciais para manter a integridade e segurança dos meninos.
É o caso de H.C.P., de 14 anos, que há um ano sai às ruas para fazer programas. Ele conta que é usuário de maconha e crack e têm a consciência que é um dependente químico. Filho de pai falecido, possui apenas a mãe e um irmão, com quem não tem um bom relacionamento. Desde os 10 anos, ele afirma conhecer sua sexualidade, e que sua mãe tem conhecimento de que é homossexual. “Quando eu assumi, ela me batia, me xingava e me trancava em casa. Mas não adiantou, hoje minto pra ela e venho rua”, lembra. No jogo de conquistas dos clientes, H. conta sem vergonha alguma, como faz para atrai-los. “Aceno para os carros que passam na rua. Se param vou até eles, entro e negocio o valor do programa, que varia conforme a marca do carro e a aparência deles”, explica.
O menor ainda conta que escolhe os clientes, e não sai com qualquer um. “Sou eu quem os escolho e não eles que me escolhem”, diz. O garoto explicou a reportagem que sabe que seus clientes são pedófilos, e que, quando forem maiores de idade não terão as mesmas pessoas pagando por sexo.
Já seu companheiro nas madrugadas, T.R.P., 16, tem história de vida semelhante a do amigo. Ele também possui família, mas diz não ter contado para os pais o que faz durante as noites, por medo. Ao contrário de H.C.P. ele diz ter um bom relacionamento familiar, mas sai e volta de casa todos os dias no mesmo horário. “Eu falo que estou com amigos na praça me divertindo. Quando chego, eles já estão dormindo e não me questionam muito” explica.
Segundo relato, ele foi abusado sexualmente pelo avô na infância e desde então tomou consciência que era homossexual. Faz apenas um ano que se prostitui e não pretende sair das ruas, por enquanto. “Já trabalhei em comércio, mas não deu certo. É difícil conseguir trabalho na minha idade. Aqui o dinheiro fala mais alto”, enfatiza.
T. também é usuário de drogas, mas contou que utiliza cocaína. “É uma sensação boa. Me deixa acordado. Não consigo deixar de usar, mesmo sabendo dos males”, conta.
De acordo com os meninos, eles compram os entorpecentes nas proximidades do centro e gastam em média R$ 10 num papelote de cocaína, ou ainda R$ 5 numa “trouxa” de maconha. Já a pedra de crack pode ser encontrada por R$ 5, em pequena quantidade e é de fácil acesso aos usuários. Os garotos explicaram que é uma droga que vicia em poucas vezes de uso, por isso é consumida e vendida, pelos traficantes, com maior freqüência.
Entre os clientes, estão pessoas que possuem “status” e respeito na sociedade ituana, além de personalidades muito conhecidas, dos quais eles já foram alvo de represálias, contam.
Abandono
O local utilizado para os programas variam, dos veículos dos clientes a prédio abandonados pela cidade, como um antigo bar e um posto de gasolina, localizados na Avenida Marginal.
Outro ponto é a antiga fábrica Mimo, além de uma casa abandonada no bairro Brasil. Comerciantes próximos à uma antiga boate, na Marginal, afirmam que o local é utilizado por usuários de drogas e abrigo para andarilhos, o que traz medo e insegurança na redondeza. “A polícia sempre faz batidas no local, mas eles sempre retornam. Tenho medo de que eles (os meninos) achem que sou eu quem faz as denúncias”, explica um comerciante que não quis se identificar.
Outro ponto é a antiga fábrica Mimo, além de uma casa abandonada no bairro Brasil. Comerciantes próximos à uma antiga boate, na Marginal, afirmam que o local é utilizado por usuários de drogas e abrigo para andarilhos, o que traz medo e insegurança na redondeza. “A polícia sempre faz batidas no local, mas eles sempre retornam. Tenho medo de que eles (os meninos) achem que sou eu quem faz as denúncias”, explica um comerciante que não quis se identificar.
Crianças que sonham
Como toda criança ou adolescente, eles mantêm o que restou da inocência e ainda arrumam tempo para sonhar. “No próximo ano queremos voltar a estudar” afirmam. Eles revelaram que possuem o sonho de fazer uma graduação e freqüentar uma faculdade. Por se considerar hábil em desenhos, H.C.P., quer ser estilista. “Tenho um fichário repleto de desenhos de botas, vestido e roupas”, conta. Já T.R.P., pretende fazer Direito e se formar um advogado exemplar.
foi tudo esta reportage
ResponderExcluirmuito boa